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" Oh, sim! O Tempo está de volta; O Tempo reina como um rei agora; e junto dele aquele velho homem com seu arsenal demoníaco de Memórias, Arrependimentos, Espasmos, Medos, Ansiedades, Pesadelos, Raivas, e Neuroses.
Eu lhe asseguro que os segundos são mais fortes agora, solenemente acentuados, e cada um, saltando do relógio, diz assim, Eu sou a Vida, intolerável, implacável! "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" Descontente com tudo, descontente comigo, eu gostaria de me redimir, sentir um pouco de orgulho no silêncio e na solidão da noite. Almas daqueles que amei, almas daqueles que cantei, deem-me forças, suportem-me, distanciem-me das mentiras e dos vapores infectos do mundo, e tu, meu senhor, Deus! Dá-me a graça para produzir alguns belos versos para que eu prove a mim mesmo que não estou entre a borra dos homens, que não sou inferior aqueles a quem desprezo. "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" E, no caminho para casa, obcecado com esta visão, tentei analisar minha súbita tristeza, dizendo para mim: o que eu vi foi o próprio quadro do velho homem de letras que sobreviveu a geração que ele, outrora, brilhantemente entreteu; do velho poeta sem amigos, sem família, sem crianças, degradado pela sua pobreza e pela ingratidão do público, de pé na tenda que o ingrato mundo não mais deseja entrar! "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" »En verdad, querida, me molestáis sin tasa y compasión; diríase, al oíros suspirar, que padecéis más que las espigadoras sexagenarias y las viejas pordioseras que van recogiendo mendrugos de pan a las puertas de las tabernas.
»Si vuestros suspiros expresaran siquiera remordimiento, algún honor os harían; pero no traducen sino la saciedad del bienestar y el agobio del descanso. Y, además, no cesáis de verteros en palabras inútiles: ¡Quiéreme! ¡Lo necesito «tanto»! ¡Consuélame por aquí, acaríciame por «allá»! Mirad: voy a intentar curaros; quizá por dos sueldos encontremos el modo, en mitad de una fiesta y sin alejarnos mucho.
»Contemplemos bien, os lo ruego, esta sólida jaula de hierro tras de la cual se agita, aullando como un condenado, sacudiendo los barrotes como un orangután exasperado por el destierro, imitando a la perfección ya los brincos circulares del tigre, ya los estúpidos balanceos del oso blanco, ese monstruo hirsuto cuya forma imita asaz vagamente la vuestra.
»Ese monstruo es un animal de aquéllos a quienes se suelen llamar “¡ángel mío!”, es decir, una mujer. El monstruo aquél, el que grita a voz en cuello, con un garrote en la mano, es su marido. Ha encadenado a su mujer legítima como a un animal, y la va enseñando por las barriadas, los días de feria, con licencia de los magistrados; no faltaba más.
¡Fijaos bien! Veis con qué veracidad —¡acaso no simulada!— destroza conejos vivos y volátiles chillones, que su cornac le arroja. “Vaya —dice éste—, no hay que comérselo todo en un día”; y tras las prudentes palabras le arranca cruelmente la presa, dejando un instante prendida la madeja de los desperdicios a los dientes de la bestia feroz, quiero decir de la mujer. "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" Yo sólo estaba triste, inconcebiblemente triste. Semejante al sacerdote a quien arrancaran su divinidad, no podía yo, sin desconsoladora amargura, desprenderme de aquel mar tan monstruosamente seductor, de aquel mar tan infinitamente, variado en su espantosa sencillez, que parece contener en sí, y representar en sus juegos, en su porte, en sus cóleras y sonrisas, los humores, las agonías y los éxtasis de todas las almas que han vivido, viven y vivirán.
Al despedirme de tan incomparable hermosura, sentíame abatido hasta la muerte. "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" O tempo desapareceu; é a Eternidade que reina, uma eternidade de delícias!
Mas uma batida terrível, pesada, fez estremecer a porta e, como em um pesadelo infernal, senti ter levado uma agulhada na boca do estômago.
E em seguida um Espectro entrou. Um funcionário que vem me torturar em nome da lei; uma concubina infame que vem chorar misérias e acrescentar as trivialidades da sua vida às dores da minha; ou ainda o faz-tudo enviado pelo diretor do jornal a exigir a entrega do manuscrito.
O quarto paradisíaco, o ídolo, a soberana dos sonhos, a Sílfide, como dizia o grande René, toda essa magia desapareceu com a batida brutal do Espectro.
Que horror! Agora lembro, lembro! Sim! Esse pardieiro, residência do tédio eterno, é bem o meu. Aí está a mobília vulgar, coberta de pó, lascada;
a lareira sem chama e sem brasa, imunda de escarros: as melancólicas janelas em que a chuva cavou sulcos na poeira; os manuscritos, riscados ou incompletos; o calendário onde o lápis ressaltou as datas fatídicas!
E esse perfume de outro mundo, no qual eu me embriagava com uma refinada sensibilidade, ai de mim! Foi substituído pelo cheiro fedorento de tabaco misturado a sabe-se lá que tipo de mofo. Respira-se já aqui o ranço da desolação.
Nesse mundinho pequeno, mas farto de desgosto, só um objeto conhecido me sorri: a garrafinha de láudano; velha e espantosa amiga;
como todas as amigas, aliás! Fértil em carícias e traições.
Ah, sim! O Tempo está de volta, o Tempo reina agora soberano; e junto com o velho repugnante retornou o seu cortejo demoníaco de Lembranças, de Arrependimentos, de Espasmos, de Medos, de Angústias, de Pesadelos, de Cóleras, de Neuroses.
Eu lhes asseguro que todos os segundos são agora forte e solenemente acentuados, e cada um deles, brotando do pêndulo, diz:
– Sou a Vida, insuportável, implacável! "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" Estaria ela morta, a minha alma?
– Acaso chegou você a esse ponto de entorpecimento que nada mais lhe agrada senão condescender no próprio mal? Se assim for, o melhor é fugir para esses países que são analogias da morte. Descobri o lugar perfeito para nós, pobre alma! Façamos as malas para Tornio. Ou para mais longe ainda, a ponta extrema do Báltico. E ainda mais longe da vida, se isso é possível:
instalemo-nos no polo. Lá, o sol não roça a terra senão obliquamente, e o lento alternar do dia e da noite suprime a variedade e aumenta a monotonia, essa outra metade do nada. Vamos poder tomar longos banhos de trevas, enquanto que, para nos divertir, as auroras boreais vão enviar, regularmente, seus feixes cor-de-rosa, como reflexos de um fogo de artifício lançado no inferno.
Enfim, sabiamente, minha alma explodiu gritando:
– Não importa onde! Não importa onde! Desde que seja fora deste mundo! "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen
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" - Vem älskar du mest, gåtfulle främling, din far, din mor, din syster eller bror?
- Jag har ingen far, ingen mor, ingen syster eller bror.
- Dina vänner?
- Du använder där ett ord vars betydelse förblivit mig okänd intill denna dag.
- Ditt fosterland?
-Jag vet inte på vilken breddgrad det är beläget.
- Skönheten?
- Jag skulle gärna vilja älska henne, den gudomliga, den eviga.
- Guldet?
- Det hatar jag, som ni hatar Gud.
- Men vad är det då som du älskar, underlige främling?
- Jag älskar molnen - molnen som går förbi ... där borta ... de underbara molnen. "
― Charles Baudelaire , Paris Spleen