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" Estaria ela morta, a minha alma?
– Acaso chegou você a esse ponto de entorpecimento que nada mais lhe agrada senão condescender no próprio mal? Se assim for, o melhor é fugir para esses países que são analogias da morte. Descobri o lugar perfeito para nós, pobre alma! Façamos as malas para Tornio. Ou para mais longe ainda, a ponta extrema do Báltico. E ainda mais longe da vida, se isso é possível:
instalemo-nos no polo. Lá, o sol não roça a terra senão obliquamente, e o lento alternar do dia e da noite suprime a variedade e aumenta a monotonia, essa outra metade do nada. Vamos poder tomar longos banhos de trevas, enquanto que, para nos divertir, as auroras boreais vão enviar, regularmente, seus feixes cor-de-rosa, como reflexos de um fogo de artifício lançado no inferno.
Enfim, sabiamente, minha alma explodiu gritando:
– Não importa onde! Não importa onde! Desde que seja fora deste mundo! "

Charles Baudelaire , Paris Spleen


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Charles Baudelaire quote : Estaria ela morta, a minha alma?<br />– Acaso chegou você a esse ponto de entorpecimento que nada mais lhe agrada senão condescender no próprio mal? Se assim for, o melhor é fugir para esses países que são analogias da morte. Descobri o lugar perfeito para nós, pobre alma! Façamos as malas para Tornio. Ou para mais longe ainda, a ponta extrema do Báltico. E ainda mais longe da vida, se isso é possível:<br />instalemo-nos no polo. Lá, o sol não roça a terra senão obliquamente, e o lento alternar do dia e da noite suprime a variedade e aumenta a monotonia, essa outra metade do nada. Vamos poder tomar longos banhos de trevas, enquanto que, para nos divertir, as auroras boreais vão enviar, regularmente, seus feixes cor-de-rosa, como reflexos de um fogo de artifício lançado no inferno.<br />Enfim, sabiamente, minha alma explodiu gritando:<br />– Não importa onde! Não importa onde! Desde que seja fora deste mundo!