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1 " tenho medo, medo de voltar a escrever incessantemente e rasgar tudo o que escrevo, como se o corpo todo estremecesse pela última vez. "
― Al Berto , O Medo
2 " enquanto escrevo, despontam corpos esbeltos dos vasospor entre as plantas e a loucuraonde o mais secreto desejo se mantém jovem "
3 " conheci o imutável bolor do rectangular paísa histérica penínsulao buraco onde coalhou o pressagioso nevoeiro de Quibirque país é este? onde a espera definha noutra esperain A SEGUIR O DESERTO "
4 " sabespor vezes queria beijar-tesei que consentiriasmas se nos tivéssemos dado um ao outro ter-nos-íamos separadoporque os beijos apagam o desejo quando consentidosfoi melhor sabermos quanto nos queríamossem ousarmos sequer tocar nossos corposhoje tenho penaparto com essa feridatenho pena de não ter percorrido o teu corpocomo percorro os mapas com os dedos teria viajado em tido pescoço às mãos da boca ao sexotenho pena de nunca ter murmurado o teu nomeacordadoperto de ti as noites teriam sido de ouroe as mãos teriam guardado o sabor do teu corpo "
5 " (anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)in SALSUGEM "
6 " Sinto que há uma estranha eternidade naquilo que amámos e foi destruído.' / 1991 "
7 " Dia da Criação da Noite por Carlos Nogueira“estavam os homens as águas os animais e as terrascansados de luz e de não haver noite levantei as mãos fiz rodar a terra para que se retirasse o sol enrolei os dedos nas últimas fulgurações teci com os cintilantes fios a misteriosa linguagem dos astrosdepois fui pela escura abóbada estendi a fantástica tapeçaria para que lá em baixo ninguém perdesse o seu caminho e nela pudesse adivinhar o doloroso humano destinoa noite ficou assim tão habitada quanto a terra os homens podem hoje sonhar com aquilo que mal entendem e quando o medo atribuiu nomes àquele luzeiro dei por terminada a obra cortei os fios como se cortasse um pedaço de mim fui para outro hemisfério adormecer o dia construir a pirâmide o quadrado o círculo a linha recta as cores do mundo e dar vida a outras incandescentes criaturas”in A Secreta Vida das Imagens III (1984/85) de O Medo "
8 " uma aranha arrasta-se sobre a folha de papelespeto-lhe o aparo... escrevoa crueldade das palavras que te cantamin ERAS NOVO AINDA "
9 " o passado não é senão um sonho. uma brincadeira com clepsidras avariada e algum sangue. "
10 " um fio de sémen atava o coração devassado pela salsugemin SALSUGEM "
11 " Salive songe a une orange. "
12 " pássarolâmina em noite de esperma subindo-me pelo ânus / sussurro de corpo extenuado / minúscula flor de unguento penetrando a pedra e o cristal "
13 " Salive m'enculeéclipse de corps textures du tissu et de la peau regard meurtrier foutre attouchements verre épais peaux lunairesin Salive, Hôtel de la Gare "
14 " fico quieto ao ver-te arder dentro de mim, cintilo "
15 " PANORÂMICA SOBRE A CIDADE EM CÉU DE SERINGAS TRANSPARENTES: no centro do sismo está o jardim de borboletas / estranho rosto de asas queimadas estendido por cima da pálpebra / boca seca e aberta / petrifica um desejo de esperma / treme o corpo ao sugar a seiva da luz / uma lâmina corre vertiginosa pela ausência de outro corpo / nos dedos um caroço estelar / pulsos abertos manchando a noite das cidades / luares brancos de Tangerina / acorda / sem dias e sem noites / minuciosamente o tempo grava em mim Tangerina / a sombra dum osso e duma laranja nas mãos /in 4. / As mãos de Kapa num Jardim D'Agosto "
16 " a memória é hoje uma ferida onde lateja a Pedro do Homem, hirta como uma sombra num sonhoe as aves? frágeis quando aperta a tempestade... migraram como eu?aonde caminhas, Doce Moura Encantada?(...)escuto o lamento das águas e sei que tudo continua vivo no fundo do mar... e no coração persistente das plantas(...)em ti cresce o precioso silêncio, as ostras doentes e as pérolas sem rumoem ti se perdem os ventos, a solidão do mar e este demorado lamentoin MAR-DE-LEVA (textos dedicados à vila de Sines) "
17 " Lo que veo ya no se puede cantar. "