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1 " Sim, quero dizer sim ao inacabadoque é o princípio de tudoe o que não é ainda,sim ao vazio coração que ignorae que no silêncio preserva o sim do início,sim a algumas palavras que são nuvensbrancas e deslizam amplassobre um mundo pacífico,sim aos instrumentos simplesda cozinha,sim à liberdade do fogoque adensa o vigor da consciência,sim à transparência que não exaltamas decanta o vinho da presença,sim à paixão que é um ajuste ao cimode uma profunda arquitectura íntima,sim à pupila já maduraque se inebria das sombras das figuras,sim à solidão quando ela é brancae desenha a matéria cristalina,sim às folhas que oscilam e que brilhamao subtil sopro de uma brisa,sim ao espaço da casa, à sua músicaentre o sono e a lucidez, que apazigua,sim aos exercícios pacientesem que a claridade pousa no vagar que a pensa,sim à ternura no centro da clareiratremendo como uma lâmpada sem sombra,sim a ti, tempestade que iluminasum país de ausência,sim a ti, quase monótona, quase nulamas que és como o vento insubornável,sim a ti, que és nada e atravessas tudoe és o sangue secreto do poema "
― António Ramos Rosa , Antologia Poética
2 " Não posso adiar o amor para outro séculonão possoainda que o grito sufoque na gargantaainda que o ódio estale e crepite e ardasob montanhas cinzentase montanhas cinzentasNão posso adiar este abraçoque é uma arma de dois gumesamor e ódioNão posso adiarainda que a noite pese séculos sobre as costase a aurora indecisa demorenão posso adiar para outro século a minha vidanem o meu amornem o meu grito de libertaçãoNão posso adiar o coração "