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" Sim, quero dizer sim ao inacabado
que é o princípio de tudo
e o que não é ainda,
sim ao vazio coração que ignora
e que no silêncio preserva o sim do início,
sim a algumas palavras que são nuvens
brancas e deslizam amplas
sobre um mundo pacífico,
sim aos instrumentos simples
da cozinha,
sim à liberdade do fogo
que adensa o vigor da consciência,
sim à transparência que não exalta
mas decanta o vinho da presença,
sim à paixão que é um ajuste ao cimo
de uma profunda arquitectura íntima,
sim à pupila já madura
que se inebria das sombras das figuras,
sim à solidão quando ela é branca
e desenha a matéria cristalina,
sim às folhas que oscilam e que brilham
ao subtil sopro de uma brisa,sim ao espaço da casa, à sua música
entre o sono e a lucidez, que apazigua,
sim aos exercícios pacientes
em que a claridade pousa no vagar que a pensa,
sim à ternura no centro da clareira
tremendo como uma lâmpada sem sombra,
sim a ti, tempestade que iluminas
um país de ausência,
sim a ti, quase monótona, quase nula
mas que és como o vento insubornável,
sim a ti, que és nada e atravessas tudo
e és o sangue secreto do poema "

António Ramos Rosa , Antologia Poética


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António Ramos Rosa quote : Sim, quero dizer sim ao inacabado<br />que é o princípio de tudo<br />e o que não é ainda,<br />sim ao vazio coração que ignora<br />e que no silêncio preserva o sim do início,<br />sim a algumas palavras que são nuvens<br />brancas e deslizam amplas<br />sobre um mundo pacífico,<br />sim aos instrumentos simples<br />da cozinha,<br />sim à liberdade do fogo<br />que adensa o vigor da consciência,<br />sim à transparência que não exalta<br />mas decanta o vinho da presença,<br />sim à paixão que é um ajuste ao cimo<br />de uma profunda arquitectura íntima,<br />sim à pupila já madura<br />que se inebria das sombras das figuras,<br />sim à solidão quando ela é branca<br />e desenha a matéria cristalina,<br />sim às folhas que oscilam e que brilham<br />ao subtil sopro de uma brisa,sim ao espaço da casa, à sua música<br />entre o sono e a lucidez, que apazigua,<br />sim aos exercícios pacientes<br />em que a claridade pousa no vagar que a pensa,<br />sim à ternura no centro da clareira<br />tremendo como uma lâmpada sem sombra,<br />sim a ti, tempestade que iluminas<br />um país de ausência,<br />sim a ti, quase monótona, quase nula<br />mas que és como o vento insubornável,<br />sim a ti, que és nada e atravessas tudo<br />e és o sangue secreto do poema