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1 " Amou, perdeu-se e morreu amando. "
― Camilo Castelo Branco , Amor de Perdição
2 " Se viveres, um dia serás livre; a pedra do sepulcro é que nunca se levanta. "
3 " A verdade é algumas vezes o escolho de um romance. Na vida real recebemo-la como ela sai dos encontrados casos ou da lógica implacável das coisas; mas, na novela, custa-nos a sofrer que o autor, se inventa, não invente melhor; e, se copia, não minta por amor da arte. Um romance que estriba na verdade o seu merecimento é frio, é impertinente, é uma coisa que não sacode os nervos, nem tira a gente, sequer uma temporada, enquanto ele nos lembra, deste jogo de nora, cujos alcatruzes somos, uns a subir, outros a descer, movidos pela manivela do egoísmo. A verdade! Se ela é feia, para que oferecê-la em painéis ao público!? A verdade do coração humano! Se o coração humano tem filamentos de ferro que o prendem ao barro donde saiu, ou pesam nele e o submergem no charco da culpa primitiva, para que é emergi-lo, retratá-lo e pô-lo à venda!? Os reparos são de quem tem o juízo no seu lugar; mas, pois que eu perdi o meu a estudar a verdade, já agora a desforra que tenho é pintá-la como ela é, feia e repugnante. A desgraça afervora ou quebranta o amor? Isto é que eu submeto à decisão do leitor inteligente. Fatos e não teses é o que eu trago para aqui. O pintor retrata uns olhos, e não explica as funções ópticas do aparelho visual. "
4 " Não deve custar a morte a quem tiver o coração tranquilo. O pior é a saudade, saudade daquelas esperanças que tu achavas no meu coração. "
5 " Ama-me assim desgraçada, porque me parece que os desgraçados são os que mais precisam de amor e de conforto. "
6 " O coração é a víscera, ferida de paralisia, a primeira que falece sufocada pelas rebeliões da alma que se identifica à natureza, e a quer, e se devora na ânsia dela, e se estorce nas agonias da amputação, para as quais a saudade da ventura extinta é um cautério em brasa; e o amor, que leva ao abismo pelo caminho da sonhada felicidade, não é sequer um refrigério. "
7 " Naquele tempo, enflorava-se a pústula; agora, a carne com vareja pendura-se na escápula e vende-se bem, porque muita gente não desgosta de se narcisar num espelho fiel. "
8 " O pão do trabalho de cada dia e o teu seio para pousar uma hora a face, pura de manchas: não pedi mais nada ao Céu. Achei-me homem aos dezasseis anos. Vi a virtude à luz do teu amor. Cuidei que era santa a paixão que absorvia todas as outras, ou as depurava com o seu fogo sagrado. Nunca os meus pensamentos foram denegridos por um desejo, que eu não possa confessar alto diante de todo o mundo. Diz tu, Teresa, se meus lábios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a Deus quando quis eu fazer do meu amor o teu opróbrio. "