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Clans of the Alphane Moon QUOTES

2 " Seu trabalho, de que pessoalmente gostava bastante, consistia em programar simulacros do serviço de inteligência do governo Cheyenne, elaborar os intermináveis programas de propaganda, promovendo a desordem no círculo dos Estados Comunistas que circundavam os Estados Unidos. Interiormente, acreditava profundamente em seu trabalho, mas racionalmente não podia qualificá-lo como um ofício nobre ou muito bem pago; os programas por ele elaborados eram no mínimo infantis, espúrios e tendenciosos. O interesse principal ficava por conta de garotos de escola, tanto dos Estados Unidos quanto dos Estados Comunistas vizinhos, além dos contingentes numerosos de adultos de base educacional inferior. Na verdade, ele era um medíocre. O que Mary evidenciara várias e várias vezes.
Medíocre ou não, continuava em seu emprego, embora outros lhe tivessem sido oferecidos durante os seis anos de casamento. Possivelmente porque apreciava ouvir suas próprias palavras pronunciadas pelos simulacros, imitações do homem. Talvez por sentir que a causa em si era fundamental: os Estados Unidos postaram-se na defensiva, política e economicamente, e tinham de proteger-se. Necessitavam de pessoas que trabalhassem para o governo ganhando salários reconhecidamente baixos, em funções desprovidas de qualidades de heroísmo ou projeção. Alguém devia programar os simulacros para a propaganda, os quais eram espalhados em todo o mundo, com o objetivo de realizar o trabalho de representantes das Autoridades de Inteligência Computadorizada, agitando, convencendo, induzindo. Mas… "

Philip K. Dick , Clans of the Alphane Moon

18 " — Tenho uma resposta. A liderança nesta sociedade naturalmente recairia sobre os paranoicos, sendo eles superiores em termos de iniciativa e inteligência, além das habilidades comuns inatas. Evidentemente, eles enfrentariam dificuldades para evitar que os maníacos dessem um golpe… a tensão perduraria indefinidamente entre os dois grupos. Mas veja bem, com os paranoicos estabelecendo a ideologia, a base emocional dominante seria o ódio. Na verdade, ódio em dois níveis: a liderança detestaria cada um que estivesse fora de seu grupo e estabeleceria como ponto pacífico que todos os odiavam em resposta. Portanto, a chamada política externa consistiria em estabelecer mecanismos através dos quais pudessem combater este suposto ódio em relação a eles. Este processo envolveria toda a sociedade em uma luta ilusória, em uma batalha contra adversários inexistentes em busca de uma vitória sobre o nada.
— Por que este esquema é tão ruim?
— Porque, não importa como tenha começado, os resultados seriam os mesmos — Mary foi taxativa — isolamento total para essa gente. Este seria, em última análise, o efeito da atividade global desses grupos: cortá-los progressivamente das demais entidades viventes.
— É assim tão negativo? A auto-suficiência…
— Não — fez Mary — Isto não seria auto-suficiência, seria alguma coisa completamente diferente, algo que nem eu nem você conseguimos imaginar. Lembra-se das antigas experiências feitas com pessoas em isolamento absoluto? Em meados do século vinte, quando eles previram a viagem ao espaço, a possibilidade de um homem ficar sozinho durante vários dias, semanas sem fim, com cada vez menos estimulação… lembra-se dos resultados obtidos quando eles colocavam um homem em uma câmara sem que quaisquer estímulos o alcançassem?
— Claro — fez Mageboom — É o que atualmente denominamos the buggies. O resultado da falta de estimulação é a alucinação aguda.
Ela assentiu: — Alucinação auditiva, visual, táctil e olfativa, em substituição a estimulação ausente. Em intensidade, a alucinação é capaz de exceder a força da realidade; com sua intensidade e impacto, o efeito obtido… Por exemplo, estados de terror. Alucinações induzidas por drogas podem deflagrar sentimentos de terror que nenhuma experiência no mundo real pode produzir.
— Por quê?
— Porque a qualidade dessas alucinações é muito superior. Elas foram geradas no interior do sistema receptor dos sentidos e realimentam-se de emanações provenientes não de um ponto distante mas do interior do próprio sistema nervos de uma pessoa. Ela não consegue afastar-se. Não é possível qualquer retirada. "

Philip K. Dick , Clans of the Alphane Moon