Home > Work > Em toda a extensão do cosmos: textos selecionados de Abraham Kuyper
1 " Todo aquele que, movendo-se no finito, torna-se consciente da existência de algo Infinito, deve formar uma concepção da relação que existe entre ambos. Aqui duas possibilidades se apresentam. Ou o Infinito se revela ao homem, e por meio dessa revelação desvela a relação realmente existente; ou o Infinito permanece mudo e silencioso, tendo o próprio homem que adivinhar, conjecturar e representar para si mesmo essa relação mediante sua imaginação; isto é, de uma maneira artificial. A primeira possibilidade é a posição cristã. Havendo o Infinito, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, nos tempos passados, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho – sendo este Filho não um mistério silencioso, mas a Palavra eterna, criadora e expressiva. O paganismo, pelo contrário, sendo destituído da revelação, anseia pelo símbolo, criando assim seus ídolos, “que têm boca, mas não falam; têm ouvidos, mas não ouvem”. O símbolo é um elo fictício entre o Infinito invisível e o finito visível. "
― Abraham Kuyper , Em toda a extensão do cosmos: textos selecionados de Abraham Kuyper
2 " Entretanto, por mais infindáveis que essas representações acerca da origem do direito possam ser, a ideia comum a todas elas é que apenas por meio do Estado, visto como o instrumento da sociedade, que o direito absoluto recebe sua sanção. É lamentável que, com exceção de Von Stahl, nenhum desses homens sustentem a imutabilidade da autoridade do Estado. O cetro de autoridade é atualmente brandido ora por um partido, ora por outro – Napoleão é substituído pelos Bourbons; estes são superados pelos Orleans; e deste modo forma-se a sequência daqueles que fazem de si mesmos mestres em lugar da autoridade no Estado, visto que, por ora, são os mais fortes. Portanto, comanda o Estado aquele que efetivamente toma o poder em mãos. E neste sujeito mais forte que estabelece o direito e a lei, triunfa o direito do mais forte não simplesmente de facto, mas, de semelhante modo, na teoria. Destarte, cai por terra a fronteira que separa as autoridades (como poderes designados por Deus) do povo, que, pelo mesmo Deus, são ordenados a se submeter a elas. Ambos são dissolvidos em um Estado absolutamente suficiente. O Estado toma o lugar de Deus; torna-se o poder supremo e também a fonte do direito. Os poderes superiores não mais existem por causa do pecado, porém um Estado é o mais sublime ideal da sociedade humana – um Estado, perante cuja apoteose todo joelho deve se dobrar, por meio de cuja graça somente devemos viver, e a cuja palavra devemos nos sujeitar. E quando, desse modo, destrói-se as fronteiras entre as autoridades e ele (Deus), de que elas são servas; e consequentemente destrói-se também as fronteiras entre o direito como uma ordenança divina e o direito como uma ordem do magistério, não resta nada além de um único Estado, providenciando todas as coisas, no qual todo empenho humano busca seu desenvolvimento ideal. "