151
" — Eu estava nas profundas, preso, de mãos e pés atados, me deu trabalho demais me desamarrar para vir te ver, meu bem. Mas tu me chamou, e eu vim, atravessando o fogo e o frio, o nada e o não. Chego e tu me nega o pão, a água de beber, por quê?
— Ai, Vadinho… "
― Jorge Amado , Dona Flor and Her Two Husbands
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" Sua vida sentimental, numerosa e diversa, pois as múltiplas amantes variavam na idade, na posição social e na cor, decorrera em grande parte nos castelos e cabarés, em xodós com raparigas, amigações, além de umas poucas aventuras com mulheres casadas; sem que nenhum desses laços tivesse a força do amor. Nunca um enrabichamento o fez sentir a vida plena e luminosa, jamais uma ausência feminina, uma briga, o término de um caso, o tornou gris, vazio e suicida. Partia para outro corpo de mulher como mudava de mesa na sala de jogo quando o 17, seu número, fazia-lhe falseta. "
― Jorge Amado , Dona Flor and Her Two Husbands
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" — Depressa, meu bem, que é curta nossa noite. Vamos depressa vadiar, daqui a pouco partirei para a perdição, que é meu destino, e será a hora de meu colega em ti, meu sócio, meu irmão. Para mim tua ânsia, teu secreto desejo, teu chão de impudicícia, teu grito rouco. Para ele as sobras, as despesas, e o plantão, teu respeito grato, o lado nobre. Tudo perfeito, meu bem, eu, tu e ele, que mais desejas? O resto é engano e hipocrisia, por que ainda queres te enganar? "
― Jorge Amado , Dona Flor and Her Two Husbands