2
" — Много хора не знаят какво търсят. — Заби поглед в тавана. — Повечето хора минават през живота като сомнамбули, разбираш ли? Искат само да притежават разни неща, да правят пари, всичко да консумират. Така са обсебени от маловажното, че губят понятие за значимото. Искат да имат нова кола, по-голям дом, по-елегантни дрехи. Искат да отслабнат, опитват се да се вкопчат в младостта, мечтаят да се впечатляват едни други. — Вдиша дълбоко, за да си поеме дъх, и погледна към сина си. — Знаеш ли защо го правят?
— Защо?
— Защото са жадни за любов. Жадни са за любов, но не я намират. Затова се обръщат към второстепенното. Колите, къщите, дрехите, бижутата… всичко това са заместители. — Поклати глава. — Но не става. Може да имаш пари, власт, съкровища… но нищо не може да замени любовта. И затова всеки път, когато си купуват кола, дом, дрешка, удоволствието е ефимерно. Току–що са се сдобили с нещо ново и вече търсят друга кола, друг дом, нова дрешка. Търсят нещо, което го няма. — Направи нова пауза. — Нито едно от тези неща не носи трайно удовлетворение, защото нито едно от тези неща не е истински важно. Всички се надпреварват да търсят нещо, което не намират. Когато си купят онова, което искат, откриват, че се чувстват празни отвътре. И това е така, защото нещата, с които са се сдобили, съвсем не са онова, което са искали. Искат любов, а не вещи. Вещите са само заместители, нещо маловажно, което скрива същественото. "
― José Rodrigues dos Santos , A Fórmula de Deus (Tomás Noronha #2)
4
" A arte é o produto da acção do homem, quando ele tenta transcender a sua condição animal e passar de criatura a criador. Ao pintar uma cena na floresta, o homem torna-se Deus porque cria numa tela a natureza, ao contar uma história num romance o homem torna-se Deus porque cria no papel a vida das pessoas. Deus é um artista, pelo que a arte é um acto divino.
... a arte tem sido sobretudo uma incessante busca pelo sentido da vida. A experiência da beleza é o que nos faz acreditar que o mundo tem um propósito, que as coisas desempenham uma função e ocupam um lugar próprio. Quando contemplamos a miríade de diamantes estrelares que mancham o céu nocturno, ou o pissitar melodioso do estorninho entre as folhas de um plátano... o espanto maravilhado que sentimos confirma-nos que o mundo é um lugar especial e que, enquanto elementos desse mundo, também nós somos especiais, abençoados pelo toque divino como se nós próprios fossemos divinos. O universo que abraça estas maravilhas também nos abraça a nós e nós fundimo-nos nele como se todos fôssemos um. A beleza confirma-nos subtilmente que a vida tem um sentido. Podemos não saber que sentido é esse mas intuímos pela tangibilidade da beleza que ele existe... Quando procuramos a beleza, estamos na verdade a procurar o propósito da nossa existência. "
― José Rodrigues dos Santos , O Homem de Constantinopla (Kaloust Sarkisian, #1)
5
" Há mais de dois mil e quinhentos anos nasceu no Nepal um homem chamado Siddharta Gautama, um príncipe pertencente a uma casta nobre e que vivia num palácio. Ao constatar, porém, que para lá do palácio a vida era feita de sofrimento, Siddharta abandonou tudo e foi para a Índia viver numa floresta como um asceta, dilacerado por uma pergunta: 'para quê viver quando tudo é dor?' Durante sete anos deambulou pela floresta em busca da resposta a essa pergunta. Cinco ascetas convenceram-no a jejuar, por acreditarem que a renúncia às necessidades do corpo criaria a energia espiritual que os conduziria à iluminação. Siddharta jejuou tanto que ficou esquelético e o seu umbigo tocou-lhe na coluna vertebral. No final, constatou que o corpo necessita de energia para alimentar a mente na sua busca. Decidiu, por isso, abandonar os caminhos extremos. Para ele, o verdadeiro caminho não era o da luxúria dos dois extremos. escolheu antes o caminho do meio, o do equilíbrio.
Um dia, após banhar-se no rio e ao comer um arroz-doce, sentou-se em meditação debaixo de uma figueira, uma árvore da iluminação, a que chamam Bodhi, e jurou que não sairia dali enquanto não atingisse a iluminação. Após quarenta e nove dias de meditação, chegou a noite em que alcançou finalmente a clarificação final de todas as suas dúvidas. Ele despertou por completo. Siddharta tornou-se Buda, o Iluminado. "
― José Rodrigues dos Santos , A Fórmula de Deus (Tomás Noronha #2)
6
" Na vida, concluiria um dia, todos têm direito a um grande amor. Uns achá-lo-iam num cruzamento perdido e com ele seguiriam até ao fim do caminho, teimosos e abnegados, até que a morte desfizesse o que a vida fizera. Outros estavam destinados a desconhecê-lo, a procurarem sem o descobrirem, a cruzarem-se numa esquina sem jamais se olharem, a ignorarem a sua perda até desaparecerem na neblina que pairava sobre o soliário trilho para onde a vida os conduzira. E havia aqueles fadados para a tragédia, os amores que se encontravam e cedo percebiam que o encontro era afinal efémero, furtivo, um mero sopro na corrente do tempo, um cruel interlúdio antes da dolorosa separação, um beijo de despedida no caminho da solidão, a alma abalada pela sombria angústia de saberem que havia um outro percurso, uma outra existência, uma passagem alternativa que lhes fora para sempre vedada. Esses eram os infelizes, os dilacerados pela revolta até serem abatidos pela resignação, os que percorrem a estrada da vida vergados pela saudade do que podia ter sido, do futuro que não existiu, do trilho que nunca percorreriam a dois. Eram esses os que estavam indelevelmente marcados pela amarga e profunda nostalgia de um amor por viver. "
― José Rodrigues dos Santos , A Filha do Capitão
8
" (...) pensou na impermanência da vida, na transitoriedade das coisas, na efemeridade do ser; diante dele, a existência fluía como um sopro, sempre em mutação, tudo muda a todo o instante e nada jamais volta a ser o mesmo. Não há finais felizes, reflectiu de si para si. Todos temos um sétimo selo para quebrar, um destino à nossa espera, um apocalipse no fim da linha. Por mais êxitos que somemos, por mais triunfos que alcancemos, por mais conquistas que façamos, para a última estação está-nos sempre reservada uma derrota. Se tivermos sorte e nos esforçarmos por isso, a vida até pode correr bem e ser uma incrível sucessão de momentos felizes, mas no fim, faça-se o que se fizer, tente-se o que se tentar, diga-se o que se disser, aguarda-nos sempre uma derrota, a mais final e absoluta de todas.... "
― José Rodrigues dos Santos , O Sétimo Selo (Tomás Noronha #3)
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" Embora não nos apercebamos disso, a Terra é um ser vivo constituído por biliões de seres vivos, as células, a Terra é um ser vivo constituído por biliões de seres vivos, a fauna e a flora. Por exemplo, se a temperatura mudar muito na Lua ou em Vénus, isso é indiferente para esses planetas, uma vez que estão ambos mortos, não passam de pedra e poeira. Tanto lhes faz que faça muito frio como muito calor, os planetas mortos são como esculturas de mármore. Mas as alterações térmicas não são indiferentes para a Terra, que se encontra viva e que, por isso, está constantemente a regular a sua temperatura e composição "
― José Rodrigues dos Santos , O Sétimo Selo (Tomás Noronha #3)