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" A confiança só é possível em uma situação que conjuga saber e não saber. Confiança significa edificar uma boa relação positiva com o outro, apesar de não saber dele; possibilita ação, apesar da falta de saber. Se de antemão sei tudo, já se torna supérflua a confiança. Transparência é um estado no qual se elimina todo e qualquer não saber, pois onde impera a transparência já não há espaço para a confiança. Em vez do mote transparência cria confiança dever-se-ia propriamente dizer: a transparência destrói a confiança. A exigência por transparência torna-se realmente aguda quando já não há mais confiança, e na sociedade pautada na confiança não surge qualquer exigência premente por transparência. Por isso, a sociedade da transparência é uma sociedade da desconfiança e da suspeita, que, em virtude do desaparecimento da confiança agarra-se ao controle. A intensa exigência por transparência aponta precisamente para o fato de que o fundamento moral da sociedade se tornou frágil, que os valores morais da honestidade e sinceridade estão perdendo cada vez mais importância. Em lugar da instância moral pioneira aparece a transparência como novo imperativo social. "
― Byung-Chul Han , La sociedad de la transparencia
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" A sociedade da transparência é inimiga do prazer. Dentro da economia do
prazer humano, prazer e transparência não conseguem conviver; a transparência
é estranha à economia libidinosa, pois é precisamente a negatividade do mistério,
do véu e da ocultação que aguilhoa o desejo e intensifica o prazer. Mas o sedutor
joga com máscaras, ilusões e formas de aparência, e a coação da transparência
aniquila espaços de jogo do prazer; a evidência não admite sedutor, mas apenas
procedimentos. O sedutor traça caminhos que são contornáveis, cheios de
encruzilhadas e tortuosos. Ele implanta sinais ambíguos: “A sedução apoia-se às
vezes em códigos ambíguos, o que transforma o sedutor, prototípico da cultura
ocidental, em representante exemplar de uma determinada forma de liberdade
da moral. Os sedutores se servem de um linguajar ambíguo, pois não se sentem
presos às normas da seriedade e da simetria. Suas práticas ‘politicamente
corretas’, ao contrário, exigem transparência e recusa da ambiguidade para
assegurarem o máximo possível de liberdade e igualdade, e assim fazer tombar
no vazio o nimbos tradicional retórico e emocional da sedução”
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. O jogo com
ambiguidade e ambivalência, com mistério e enigma eleva a tensão erótica, e,
assim, a transparência ou a univocidade levaria ao fim do eros. Não é por acaso
que a sociedade da transparência é hoje, igualmente, sociedade pornográfica.
Também a práxis da post-privacy, que em nome da transparência exige um
mútuo desnudamento ilimitado, é totalmente prejudicial ao prazer. "
― Byung-Chul Han , La sociedad de la transparencia
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" Rousseau, Julie oder die neue Heloïse, op. cit., p. 444. Rousseau construye un estado de naturaleza en el que los hombres eran transparentes los unos para los otros: «Antes de que el arte hubiese moldeado nuestros modales y enseñase a nuestras pasiones a hablar un lenguaje adecuado, nuestras costumbres eran rústicas, pero naturales; y la diferencia de las conductas denunciaba inmediatamente la de los caracteres. En el fondo la naturaleza humana no era mejor; pero los hombres hallaban su seguridad en la facilidad de conocerse recípro- camente; y esa ventaja, cuyo valor ya no apreciamos, les evitaba muchos vicios» (Discurso sobre las ciencias y las artes, Buenos Aires, Aguilar, 1980, p. "
― Byung-Chul Han , La sociedad de la transparencia