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" A luz dourada - agora quase uma luz crepuscular - ofuscou-a e ela tornou a fechar os olhos, reparando que ocorriam fluxos e refluxos, vermelhos e pretos, à medida que o coração bombeava sangue em suas pálpebras cerradas. Decorridos alguns instantes, notou que os mesmos padrões dardejantes se repetiam indefinidamente. Era quase o mesmo que observar protozoários ao microscópio, protozoários numa lâmina tinta de vermelho. Achou esse padrão que se repetia tanto curioso quanto calmante. Supunha que não era preciso ser gênio, para compreender a atração que essas formas repetitivas exerciam em determinadas circunstâncias. Quando todos os padrões e rotinas normais da vida desmoronaram - e com chocante subitaneidade - era preciso encontrar alguma coisa a que se agarrar, alguma coisa normal e previsível. Se o espiralamento regular do sangue nas camadas finas da pele, que protegiam os olhos dos últimos raios de sol de um dia de outubro, era a única opção que havia, então a pessoa a aceitava e dizia muitíssimo obrigada. Porque se não conseguisse encontrar alguma coisa a que se agarrar, alguma coisa que fizesse algum sentido, os elementos desconhecidos da nova ordem mundial poderiam levá-la à loucura. "
― Stephen King , Gerald's Game