2
" E tinha realmente um filho nos braços da mulher adormecida. Um filho simples, natural, sem precisos, sem Joana Pedra, sem faixas, sem cueiros, sem nada.
Um filho que o acordou cedo a gritar com a mesma fome do gado, e que, à tarde, quando regressou do monte, lhe fez dizer à mulher, depois de pegar nele ao colo e de olhar da janela o mundo outra vez coberto de sonho (...) "
― Miguel Torga , Contos Da Montanha
4
" Nas vinhas, as mulheres enchiam cestos, que os homens, em fila indiana, despejavam nas dornas; e os carros de bois, a escorrer mosto, cantavam depois pela quelha acima numa alegria de ouriços carregados. Nos lameiros, os velhos tiravam milho, apanhavam feijões ou recolhiam abóboras. E nos pomares, trepado, o rapazio varejava as nogueiras, coalhando o chão. "
― Miguel Torga , Contos Da Montanha
10
" A Melra fora sempre como aço. A ter os filhos, era um ai que lhe dava; ao mato, punha cada carrego à cabeça, que até as mais se envergonhavam; a segar, enquanto as outras faziam cinco, fazia ela dez. Forte! Também lhe comia e bebia como uma valente. O
homem, o Inácio, quando iam às feiras, já sabia: onde ele virasse um copo, ela virava outro. "
― Miguel Torga , Contos Da Montanha