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" Muitas pessoas gostam de dizer que as diferenças culturais são lindas, mas isso nem sempre é verdade. E que dá para viver sempre em paz. Eu gostaria que isso fosse verdade. Imagine que você mora em Londres, cidade saturada de “outros”. Imagine que você seja uma pessoa legal e sem preconceitos. De boa vontade, inclusive. Agora imagine que você tem uma filha educada nos padrões básicos ocidentais de um cristianismo relaxado e secularizado, isto é, sem muitos salamaleques religiosos, e que você seja um crente na ordem pública pautada pela liberdade de crença ou descrença. Sua filha, então, começa a namorar um muçulmano... Não precisa ser um radical extremista... Como seria? Não precisa imaginar questões muito complicadas sobre escolha entre Jesus e Maomé, pense apenas na educação dos netos, nos papéis masculinos e femininos, na vida profissional da sua filha, na relação com os “ancestrais”, nos calendários religiosos...
Não sou contra casamentos interculturais, falo apenas da falsa facilidade com a qual se levam discussões como essas. Transtornos culturais se resolvem mais facilmente quando as pessoas envolvidas não dão muita bola para rituais e crenças específicas e aceitam a pasteurização contemporânea dessas crenças. "
― Luiz Felipe Pondé , Guia Politicamente Incorreto da Filosofia