Home > Author > Maria do Rosário Pedreira
1 " Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer maiseste dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.Fecha os olhos agora e sossega - o pior já passouhá muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mãodesvia os passos do medo. Dorme, meu amor --a morte está deitada sob o lençol da terra onde nascestee pode levantar-se como um pássaro assim queadormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombranão hão-de derrubar-te -- eu já morri muitas vezese é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhosagora e sossega -- a porta está trancada; e os fantasmasda casa que o jardim devorou andam perdidosnas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo enada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, jáolhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,de guarda aos pesadelos - é noite é um poemaque conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres. "
― Maria do Rosário Pedreira , O Canto do Vento nos Ciprestes