Home > Author > Mário Cesariny
1 " Parece reconhecer-se muito mais facilmente o fogo depois de domesticado. "
― Mário Cesariny , Uma Última Pergunta - Entrevistas com Mário Cesariny
2 " Dorme, dorme, meu meninoDorme no Mar dos SargaçosQue mais vale o mar a pinoQue as serpentes nos meus braços. "
― Mário Cesariny
3 " [...]Merecemos o nosso passo de bichos de dilúviomerecemos que nos ceguem todos os diasmerecemos estar sozinhos rodeados de prédiosmerecemos ter connosco toda a vontadefim princípio moleza de costumes[...] "
― Mário Cesariny , Poesia: 1944-1955
4 " O REGRESSO DE ULISSESO HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIC DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIZ DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA “CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL” SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE.PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS DISTÂNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO PUERILIDADES COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA), GUERRAS, ETC. ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA “ESCRAVA DO HOMEM” E ELA RI ÀS ESCÂNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM HOMEM.DESDE O ÍNICIO DOS TEMPOS, ANTES DA ROBOTSTÓNICA GREGA, OS ÚNICOS HOMENS-HOMENS QUE APARECERAM FORAM OS HOMENS-MEDICINA, OS HOMENS-XAMÃS (HOMOSSEXUAIS ARQUIMULHERES). ÊSSES E AS AMAZONAS (SUPER-MULHERES-HOMENS). MAS UNS E OUTRAS ERAM DEMAIS DEMAIS. E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM. "
― Mário Cesariny , Pena Capital
5 " Ninguna palabra está completa / ni siquiera en alemán que las tiene tan grandes. "
6 " Que afinal o que importa não é haver gente com fomeporque assim como assim ainda há muita gente que come(Pastelaria, Mário Cesariny) "
7 " ESTAÇÃOEsperar ou vir esperar querer ou vir querer-tevou perdendo a noção desta subtileza.Aqui chegado até eu venho ver se me apareçoe o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinhoMuita vez vim esperar-te e não houve chegadaDe outras, esperei-me eu e não apareciembora bem procurado entre os mais que passavam.Se algum de nós vier hoje é já bastantecomo comboio e como subtilezaQue dê o nome e espere. Talvez apareça "
8 " Em todas as ruas te encontroem todas as ruas te percoconheço tão bem o teu corposonhei tanto a tua figuraque é de olhos fechados que eu andoa limitar a tua alturae bebo a água e sorvo o arque te atravessou a cinturatanto tão perto tão realque o meu corpo se transfigurae toca o seu próprio elementonum corpo que já não é seunum rio que desapareceuonde um braço teu me procuraEm todas as ruas te encontroem todas as ruas te perco "
9 " o amor é uma chave que deve perder-se "
10 " Ama como a estrada começa. "
11 " « [...]Ela sabe que os pintores os escritorese quem morrenão gosta da realidadequerem-na para um bocadonão se lhe chegam muito pode sufocar[...] » "
― Mário Cesariny , A Cidade Queimada
12 " Nunca estive tão só diz o meu corpo e eu rio-me porque corpo é corponão tem nada a fazer não se lembra quer estar sempre agarradosuprimido apertadoe se é belo é piorvive num amarrote permanente Sim decerto matéria atrai matéria a boca faz-se sangue o sangue faz-se espermaa urina espera a custo que o esperma se faça para vir de novo à superfície do arquando o total atinge a sua forma ejectável preme-se noutro corpo noutros lábios idênticosmas do lado de lá como um espelhosua fiel imagem convertidaIsso o meu corpo quer - o corpo - noite e diaele julga que eu tenho a idade deleque ainda só sei do homem pelo que transporta a meia nau sobre o alto das pernas - o quadrado das ânsias respirando abertas - "
13 " Ó boi da paciência, que fazes tu aqui?Quis tornar-te amável ser teu familiar[...]Há tanta coisa que eu ignoroe é tão irremediável este tempo perdidoÓ boi da paciência sê meu amigo!::::::Estou como se não houvesse mais para dizer que uma palavrauma interminável palavrano interminável silêncioEstou como um cavalo esquelético à beira dum horizonteperdidos todos os caminhosEstou no entanto familiare rodeado de presençasEscarvo no chão absurdoe uma pedra dá-me confiançaNa solidão da terra encontrocomo o vestígio dum segredo:::Agora estou entre sombras e sombrasdeitado sobre a minha sombra frescaJá não recordo o abandonadoDurmo no centro vazio do mundona estéril matrizDa entranha da terra saíe como pálida evidência viviDesertei da biografia e dos relógiosHá uma sombra fresca há um olhar que me vêum olhar que procura na sombra centrar-se nos meus olhosEu sou o fugitivo incerto desse olharsobre a linha do marsobre o cimo das ondassobre a alta distância das estrelasPorque ando e ando esperando em quêcom indecisões de um lado e com pedras do outrocom os involuntários gestos que nada significamcom esperas e encontros que atraiçoei no mais íntimocom um coração soterrado há muitosob mil Primaveras?Quem ouviu tal silêncioquem viu tal desertoquem dormiu nesta camasó poderá desejaro súbito milagredo mundomuito para além dos olhos sujos dos homens:::[...]A vida continua.Certas coisas que pareciam mortasestão agora vivas ou, pelo menos, mexem-se.Ausentes, dominam-nos.Não é para nós que utilizam palavras,que insistem,não é para nós!Estes grandes ornamentos, estes sábios discursosfluem em visões, em ondas, como se não no presente.Ter-se-á o presente extinguido?A vida continua tão improvavelmente.Na grama um passarinho canta.Canta por cantar, ou não, canta[...] "