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" Não é que as pessoas já não acreditem nela [publicidade] ou a tenham aceitado como rotina. É que, se ela fascinava por este poder de simplificação de todas as linguagens, este poder é-lhe hoje subtraído por um outro tipo de linguagem ainda mais simplificado e, logo, mais operacional: as linguagens informáticas. O modelo de sequência, de banda sonora e de banda-imagem que a publicidade nos oferece, a par com os outros grandes media, o modelo de perequação combinatória de todos os discursos que ela propõe, este contínuum ainda retórico de sons, de signos, de sinais, de slogans que ela domina como ambiente total, está largamente ultrapassado, justamente na sua função de estímulo, pela banda magnética, pelo continuum electrónico que está a perfilar-se no horizonte deste fim de século. O microprocesso, a digitalidade, as linguagens cibernéticas vão muito mais longe no mesmo sentido da simplificação absoluta dos processos do que a publicidade fazia ao seu humilde nível, ainda imaginário e espectacular. E é porque estes sistemas vão mais longe, que polarizam hoje o fascínio outrora concedido à publicidade. E a informação, no sentido informático do termo, que porá fim, que já põe fim, ao reino da publicidade. É isto que assusta e é isto que apaixona. A «paixão» publicitária deslocou-se para os computadores e para a miniaturização informática da vida quotidiana. A ilustração antecipadora desta transformação era o papoula de K. Ph. Dick, este implante publicitário transistorizado, espécie de ventosa emissora, de parasita electrónico que se fixa ao corpo e de que este tem muita dificuldade em libertar-se. Mas o papoula é ainda uma forma intermediária: é já uma espécie de prótese incorporada, mas recita ainda mensagens publicitárias. Um híbrido, pois, mas prefiguração das redes psicotrópicas e informáticas de pilotagem automática dos indivíduos, ao lado do qual o «condicionamento» publicitário parece uma deliciosa peripécia. "

Jean Baudrillard , Simulacra and Simulation


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Jean Baudrillard quote : Não é que as pessoas já não acreditem nela [publicidade] ou a tenham aceitado como rotina. É que, se ela fascinava por este poder de simplificação de todas as linguagens, este poder é-lhe hoje subtraído por um outro tipo de linguagem ainda mais simplificado e, logo, mais operacional: as linguagens informáticas. O modelo de sequência, de banda sonora e de banda-imagem que a publicidade nos oferece, a par com os outros grandes media, o modelo de perequação combinatória de todos os discursos que ela propõe, este contínuum ainda retórico de sons, de signos, de sinais, de slogans que ela domina como ambiente total, está largamente ultrapassado, justamente na sua função de estímulo, pela banda magnética, pelo continuum electrónico que está a perfilar-se no horizonte deste fim de século. O microprocesso, a digitalidade, as linguagens cibernéticas vão muito mais longe no mesmo sentido da simplificação absoluta dos processos do que a publicidade fazia ao seu humilde nível, ainda imaginário e espectacular. E é porque estes sistemas vão mais longe, que polarizam hoje o fascínio outrora concedido à publicidade. E a informação, no sentido informático do termo, que porá fim, que já põe fim, ao reino da publicidade. É isto que assusta e é isto que apaixona. A «paixão» publicitária deslocou-se para os computadores e para a miniaturização informática da vida quotidiana. A ilustração antecipadora desta transformação era o papoula de K. Ph. Dick, este implante publicitário transistorizado, espécie de ventosa emissora, de parasita electrónico que se fixa ao corpo e de que este tem muita dificuldade em libertar-se. Mas o papoula é ainda uma forma intermediária: é já uma espécie de prótese incorporada, mas recita ainda mensagens publicitárias. Um híbrido, pois, mas prefiguração das redes psicotrópicas e informáticas de pilotagem automática dos indivíduos, ao lado do qual o «condicionamento» publicitário parece uma deliciosa peripécia.