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" Ibsen tinha razão. Confirmava-o tudo o que via à minha volta. As relações com os outros existiam para extirpar a individualidade, para aprisionar a liberdade, para recalcar o que procurava emergir. (...) Quando eu lhe apresentava a minha opinião, soprava de fúria e acusava-me de defender uma concepção americana desprovida de conteúdo, falaciosa e vazia. Estava convencida de que existíamos para os outros. Mas fora essa ideia que dera origem à sistematização actual da nossa maneira de viver, eliminando por completo o imprevisível e fazendo com que passássemos do jardim-de-infância à escola e à universidade e, depois, entrássemos na vida profissional como se nunca saíssemos de um túnel, mas acreditando que escolhêramos tudo por nossa livre vontade, quando, na realidade, fôramos peneirados como grãos de areia desde o nosso primeiro dia de escola: alguns eram encaminhados para uma carreira prática, outros para uma formação teórica, uns para cima e outros para baixo, embora nos tivessem ensinado que todos éramos iguais. Fora essa ideia que nos conduzira, pelos menos na minha geração, a esperar tudo da vida, a viver acreditando que podíamos exigir, a formular toda a espécie de exigências à realidade e a acusar sempre as circunstâncias, em vez de nós próprios, quando as coisas não corriam como imagináramos, ou a incriminarmos furiosamente o Estado se, depois de um tsunami, não fôssemos imediatamente socorridos. "

Karl Ove Knausgård , Min kamp 2 (Min kamp #2)


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Karl Ove Knausgård quote : Ibsen tinha razão. Confirmava-o tudo o que via à minha volta. As relações com os outros existiam para extirpar a individualidade, para aprisionar a liberdade, para recalcar o que procurava emergir. (...) Quando eu lhe apresentava a minha opinião, soprava de fúria e acusava-me de defender uma concepção americana desprovida de conteúdo, falaciosa e vazia. Estava convencida de que existíamos para os outros. Mas fora essa ideia que dera origem à sistematização actual da nossa maneira de viver, eliminando por completo o imprevisível e fazendo com que passássemos do jardim-de-infância à escola e à universidade e, depois, entrássemos na vida profissional como se nunca saíssemos de um túnel, mas acreditando que escolhêramos tudo por nossa livre vontade, quando, na realidade, fôramos peneirados como grãos de areia desde o nosso primeiro dia de escola: alguns eram encaminhados para uma carreira prática, outros para uma formação teórica, uns para cima e outros para baixo, embora nos tivessem ensinado que todos éramos iguais. Fora essa ideia que nos conduzira, pelos menos na minha geração, a esperar tudo da vida, a viver acreditando que podíamos exigir, a formular toda a espécie de exigências à realidade e a acusar sempre as circunstâncias, em vez de nós próprios, quando as coisas não corriam como imagináramos, ou a incriminarmos furiosamente o Estado se, depois de um tsunami, não fôssemos imediatamente socorridos.