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" Falas da tua vontade de te deixares ir e cair. Se eu me deixar ir, não caio nem saio de onde estou. Já estou no fundo. Ninguém está interessado no que escrevo. Ninguém está interessado no que penso. Ninguém me convida seja para onde for. Tenho de abrir caminho a cada passo, não vês? Quando entro numa sala cheia de gente, tenho de me esforçar por ser interessante. Não preexisto, como tu, não tenho nome, tenho de criar tudo a todo o momento a partir do zero. Estou no fundo de um buraco no chão e ponho-me a fritar por um megafone. Pouco importa o que diga, ninguém me escuta. E tu sabes como tudo o que digo sobre o lado de fora contém uma crítica ao lado de dentro. O que é precisamente característico de um obstinado. De um tipo amargo e quezilento. Tenho quase quarenta anos e não tenho nada do que quis ter. Tu dizes que sou brilhante e único, e talvez seja verdade, mas de que me serve? Tu tens tudo o que quiseste e a possibilidade de renunciar a isso, de o pôr de lado. Mas eu não posso. Tenho de tentar entrar. passei vinte anos a esforçar-me. O livro em que estou a trabalhar vai levar pelo menos mais três anos a ser feito. Sinto que as pessoas à minha volta começam já a deixar de acreditar e, portanto, a desinteressar-se. Sou cada vez mais como um louco que se recusa a abandonar a loucura do seu projecto. "

Karl Ove Knausgård , Min kamp 2 (Min kamp #2)


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Karl Ove Knausgård quote : Falas da tua vontade de te deixares ir e cair. Se eu me deixar ir, não caio nem saio de onde estou. Já estou no fundo. Ninguém está interessado no que escrevo. Ninguém está interessado no que penso. Ninguém me convida seja para onde for. Tenho de abrir caminho a cada passo, não vês? Quando entro numa sala cheia de gente, tenho de me esforçar por ser interessante. Não preexisto, como tu, não tenho nome, tenho de criar tudo a todo o momento a partir do zero. Estou no fundo de um buraco no chão e ponho-me a fritar por um megafone. Pouco importa o que diga, ninguém me escuta. E tu sabes como tudo o que digo sobre o lado de fora contém uma crítica ao lado de dentro. O que é precisamente característico de um obstinado. De um tipo amargo e quezilento. Tenho quase quarenta anos e não tenho nada do que quis ter. Tu dizes que sou brilhante e único, e talvez seja verdade, mas de que me serve? Tu tens tudo o que quiseste e a possibilidade de renunciar a isso, de o pôr de lado. Mas eu não posso. Tenho de tentar entrar. passei vinte anos a esforçar-me. O livro em que estou a trabalhar vai levar pelo menos mais três anos a ser feito. Sinto que as pessoas à minha volta começam já a deixar de acreditar e, portanto, a desinteressar-se. Sou cada vez mais como um louco que se recusa a abandonar a loucura do seu projecto.